Minha mãe-pequenina, Janeiro de 2014
Este post poderia ser um
private post. Mas não é.
É um post que escrevo para familiares e amigos chegados (sejam eles reais, ou virtuais).
É um ponto da situação da minha vida. É um desabafo.
De há uns tempos para cá, devido aos problemas de saúde da minha mãe-pequenina, deixei de ter vida própria. Toda a minha vida começou a girar em volta dela. Os meus dias foram pautados pelas consultas e exames que tinha de fazer, pelas horas da toma dos medicamentos, pelas horas fixas das refeições, pelo descanso que lhe era imposto... ou seja pelas suas rotinas diárias.
E aprendi (à minha custa) que a partir de uma certa idade, as rotinas diárias são preciosas e inalteráveis. Porque é assim que as pessoas de idade se sentam bem e felizes. E não vale a pena alterar algo, nem que seja uma ida ao restaurante, para um almoço. Não vai resultar. Não resulta!
A minha mãe-pequenina, como vocês já leram muitas vezes ao longo dos meus anos nesta esfera, é voluntariosa, vaidosa, senhora de si e muito pouco maleável. Com os sucessivos AVCs e AITs, o seu feitio ficou digamos...
refinado.
Eu que tenho estado sempre presente, em todas as situações da sua vida, envelheci 20 anos nestes últimos tempos. Não é por acaso que já não é a segunda, nem a terceira vez que me perguntam ultimamente, se eu sou irmã, da minha mãe-pequenina. Acho que está tudo dito...
No último Natal, em reunião de família, decidimos em conjunto que seria melhor para a minha mãe-pequenina e para mim, que ela fosse para um lar, para um Centro, pois eu já não estava a aguentar tanta pressão, a minha saúde estava a deteriorar-se a olhos vistos. Claro que
o nó no meu peito se instalou logo.
Colocar a minha mãe-pequenina, num lar?! Logo nós que felizmente temos uma casa com comodidades suficientes, para ela estar?! Que angústia!
Procurámos, inquirimos e como temos a sorte de viver na província (sim, que neste caso acho mesmo que é sorte!), encontrámos uma instituição (localizada a 10 minutos de distância) que preenchia todos os requisitos que nós pretendíamos para a minha mãe-pequenina: uma IPSS, edifício feito de raiz para os idosos, com instalações adequadas, jardins, horta e estufa, espaços amplos, quartos arejados, cada um com a sua casa-de-banho, sala de estar grande.
Mas sobretudo, com actividades que considero importantes nestas idades: pessoal preparado e especializado em geriatria, ginástica, fisioterapia, cabeleireiro (vaidosa como ela, todas as semanas o frequenta, claro!), capela, animadora cultural, enfermeiro permanente, médico, saídas e passeios, acompanhamento nas idas a consultas (que nunca foi necessário utilizar, pois eu insisto em ser eu a fazê-lo)...
Claro que apesar de todas estas valências e bem estar proporcionado, o sentimento de culpa, não me abandona. E já por duas ou três vezes me deu vontade de a ir buscar para a minha casa, novamente. Não fosse o meu amor-tardio, teria já voltado
à estaca zero.
Se alguns familiares chegados e amigos entenderam esta nossa decisão e apoiaram, outros houve que condenaram e continuam a questionar e a colocar perguntas, perguntas, perguntas! E que perguntas!!
E de onde menos se espera, surge o apoio (obrigada tia Bilita por todo o apoio que me tem dado, apesar dos seus 80 anos!). Obrigada minha amiga Custódia, que tão bem entendes o que eu sinto e que tantas palavras doces, me dizes.
Claro que que minha mãe-pequenina acha neste momento que eu sou a pior filha do mundo e faz-me sentir tal, todos os dias que falo com ela, ou que a visito (apesar da decisão ter sido tomada em família).
É comigo que ela discute, levanta a voz, condena... e me deixa este
nó permanente, no peito.
Neste momento para além de envelhecida, estou esgotada.
Já não consigo deitar uma lágrima.
Apego-me ao que diz a médica que a assiste mensalmente- quem tem AVCs e pequenos AITs quase diariamente, tende a ter lapsos de demência e que serão cada vez maiores no tempo e no espaço.
Apego-me ao o que o enfermeiro que todos os dias contacta com ela, me relata: que está sempre bem disposta, orientada (salvo os lapsos, inerentes aos AITs...) e pronta a ajudar por exemplo, a pôr as mesas e a levantar, (algo que eles acham fantástico, pois é uma maneira de ela se sentir útil).
Diz-me o enfermeiro e a directora do Centro, que com os idosos é sempre assim: a pessoa que lhes está mais chegada, é sempre
a que leva por tabela.
Tenho de agradecer ao maridão, pelo imenso apoio e força que me tem dado, nos últimos meses. Este amor-tardio, apareceu na minha vida no momento certo.
Tenho de agradecer às amigas virtuais que me têm enviado emails, e/ou me têm telefonado para saber de mim e da minha mãe pequenina (Ana Feijão, AvoGi, Paula Nogueira Guerra, Belle du Jour, Margarida, Verita, Flor de Jasmim, Miss Scarlet, Anita, Maria...).
A minha mãe-pequenina tem 83 anos e é velhinha e doente, sim!
E para toda a gente (que me condena e a me aponta o dedo) - aprendam a envelhecer e convivam com isso de forma natural, sim? E a vida será tãããããão mais fácil!
Grande abraço,
Manuela