segunda-feira, 4 de julho de 2011

Apontamentos o meu país - Maria do Carmo I


Maria do Carmo, apressou-se.
Afinal já eram quase 11 horas e ainda tinha muito para andar até ao local, onde seria servido o almoço.
Ela bem queria andar mais depressa mas aquela parte do corpo, era bem mais lenta que o seu cérebro. Ainda faltava arrumar a carteira e o lenço. Com a mão sã, conseguiu colocar os ditos pertences num saco e depois enfiar este, no braço paralisado.
Há já sete anos que tinha tido o AVC e desde aí uma parte do seu corpo estava morta. A pálpebra descia completamente sobre o seu olho esquerdo, enquanto a mão ali permanecia, sempre junto ao peito, numa posição estranha... que ela bem a tentava endireitar... a fala não lhe saía tão compreensível, quanto o desejava...
A sua grande vitória tinha sido o recomeçar a andar. Mesmo arrastando a perna e com ajuda de uma bengala, conseguia devagar muito devagar, dar uns curtos passeios. O mais difícil eram as escadas, os desníveis ou por vezes os carros estacionados, em cima dos passeios.
Estava para aqui em divagações e já a fazer-se tarde, o almoço no centro de dia, era servido ao meio-dia em ponto e ainda tinha que atravessar duas ruas e aquela grande praça...
Passando as pontas dos dedos, pelas suas hortências envasadas, dirigiu-se à porta de casa.

(História verídica, passada em Braga, em Junho de 2011)

16 comentários:

Anónimo disse...

Entristecem-me estas vidas, sobretudo quando, por detrás, se sente a solidão.
Um grande beijinho

Rosa dos Ventos disse...

Tanta Maria do Carmo que passa por nós! :-((
Mas esta ainda tem onde ir comer!

Abraço

Anna^ disse...

Há vidas tão comoventes!!!!

beijinho e uma boa semana.

Deriva disse...

Histórias do dia-a-dia de muitas pessoas... bjs

Myself disse...

Infelizmente deve ser a história de muitas pessoas!!
Bjs

Green disse...

É uma tristeza ver a quantidade de pessoas que estão na situação dessa senhora, e por vezes muitas não têm qualquer tipo de ajudas...

mfc disse...

Não perco a continuação das tuas histórias nem por nada!

Autora de Sonhos disse...

...mais, please...

Ana disse...

Uma realidade muito dificil e normalmente recuperações muito dolorosas. E ninguém está imune. A minha mãe morreu com 25 depois de ter tido um AVC, se sobrevivesse tinha ficado praticamente um vegetal...
beijinhos

Graça Sampaio disse...

Manelinha, tenho tanto medo disto!
A vida prega-nos partidas muito feias, às vezes.

Marta disse...

É triste quando sabemos que há quem necessita de tanta ajuda e não a tem.
beijinhos

Flor de Jasmim disse...

Manuela querida
comovente!!!
É assustador o numero de "Marias do Carmo" assim como me assusta imenso a solidão ou o facto de ficar dependente de alguém, felizmente que esta senhora ainda se movimenta para onde quer.
Beijinho

Turista disse...

Nina, esta vida, são as vidas de muitas das nossas mulheres, por esse país fora...

Rosa dos Ventos, a grande vantagem das cidades mais pequenas ou da província, é o apoio que as autarquias prestam neste âmbito, felizmente...

Anna^, este caso passou-se comigo...

Beijinhos, minhas queridas.

Turista disse...

Krasiva, uma história, muito mais frequente do que possamos imaginar...

Luisinha, e será a história de muitas de nós, no futuro, pois o nosso país está muito envelhecido...

Green, cabe-nos a nós, estar alerta e informar a quem de direito. É nosso dever cívico...

Beijinhos, minhas queridas.

Turista disse...

mfc, obrigada. Hoje segue a segunda e última parte.

Autora de Sonhos, hoje vou publicar a última parte...

Ana, obrigada pelo teu testemunho na primeira pessoa. Muita gente pensa que aos 25 anos, não ocorrem AVCs...

Beijinhos, minhas queridas.

Turista disse...

Carol, também eu tenho medo, amiga. A minha mãe já teve 2, o último dos quais com 77 anos e recuperou sempre, felizmente...

Marta, pois o pior é a falta de apoios que ainda existem. O que será de nós, sem o estado social e com tanta população envelhecida?

Flor de Jasmim, tantas, tantas Marias do Carmo, por aí! E na nossa geração ainda existirão, muitas mais...

Beijinhos, minhas queridas.